Você já pensou em fazer uma comparação entre a prestação de serviços do setor automotivo com a do setor de elevadores. É isso que vamos fazer agora para tentar vislumbrar o que pode ocorrer daqui a alguns anos.
“Até o final da década de 1980, em quase cada esquina havia uma oficina mecânica. Depois do plano Collor, no início da década de 1990, a realidade do mercado de manutenção automotiva mudou. O número de oficinas mecânicas é menor a cada ano. Por muito tempo foi assim. Uma porta de garagem, um jogo de ferramentas e boa disposição de trabalho eram suficientes para abrir uma oficina mecânica e garantir o sustento da família. Hoje, a reparação de veículos se tornou um negócio caro e altamente profissional, o que levou muita gente a desistir do negócio. A tecnologia era baixa e a variedade de modelos pequena”, diz César Garcia Samos, da Mecânica do Gato, localizada na zona leste de São Paulo.
Essa tendência continua no segmento automotivo, mas e no segmento de elevadores?
Com a crise sanitária e a consequente crise econômica que estamos vivendo desde o início do ano de 2020,
O surgimento de novas empresas de manutenção de elevadores tem crescimento de modo alarmante. Novas empresas de manutenção geralmente são formadas por ex-funcionários de empresas multinacionais. Portanto, em muitos casos por necessidade de sobrevivência, praticam preços promocionais com valores muito abaixo do mínimo que possibilite a continuidade da empresa no longo prazo. Os donos da nova empresa se esquecem de que eles podem atender a um número limitado de elevadores-clientes e, quando chegarem a um determinado número de elevadores, terão que contratar mais mão de obra e, consequentemente, os custos diretos da empresa irão aumentar e não poderão mais manter os preços cobrados inicialmente. O que farão nesse caso, venderão mais peças para complementar a receita?
Infelizmente, estamos vivendo uma guerra de preços sem precedentes. Empresas multinacionais oferecendo vários meses de manutenção gratuita para reconquistar clientes da sua marca, e empresas menores praticando preços irrisórios, por exemplo, menores que preços de manutenção de portão eletrônico, interfone e bomba d’água, serviços que não requerem o nível conhecimento técnico para a manutenção de elevadores, equipamentos que transportam pessoas.
Você pode ter certeza em breve a conta chegará para você pagar. Não existe milagre na formação de preços de manutenção.
Mas será que, de modo diverso do setor automotivo, esse boom não vai ter fim?
Será que o mercado vai ser sempre receptivo a qualquer um que quiser iniciar no ramo de manutenção de elevadores?
Fica aí o alerta de quem já vivenciou a experiência de 18 anos no setor de manutenção/modernização de elevadores entre a gestão de uma empresa independente e posteriormente a gerência de uma filial de uma empresa multinacional. Fique atento aos fatos que seguem.
- A desaceleração da economia já é evidente e, com isso, a redução no número de elevadores novos vendidos cujos contratos de manutenção são bastante lucrativos para as empresas fabricantes. Em virtude disso, os fabricantes estão intensificando a recuperação de clientes fora da carteira e a venda de serviços de modernização de modo a compensar a perda de lucratividade com vendas novas;
- Um jogo de ferramentas e boa disposição para o trabalho, que, como vimos, impulsionou o mercado de manutenção automotiva no passado, dentro em breve, já não serão suficientes no setor de manutenção de elevadores, pois os novos elevadores instalados possuem tecnologia que requerem conhecimento técnico específico e ferramental adequado;
- Com o surgimento de novas tecnologias, a Iot (internt das coisas) a tendência é que a restrição a manutenção de equipamentos das grandes fabricantes seja cada vez maior.
- Em função da imensidão do setor automotivo, são credenciadas concessionárias (empresas com profissionais treinados para prestar serviços de manutenção em marcas de veículos específicos). Já no setor de elevadores, devido ao volume ser muito menor e em função da cultura do mercado, as empresas fabricantes não oferecem treinamentos e nem credenciam outras empresas para prestarem manutenção em equipamentos de sua fabricação.
Acreditamos que o mercado futuro será distribuído entre as empresas que detém a tecnologia (fabricantes) e empresas independentes que tenham colaboradores que dominem as novas tecnologias que surgem a cada dia e, além disso, tenham qualidade, transparência e pratiquem preços justos que possibilitem a continuidade do negócio no longo prazo.
E as empresas que estão surgindo e/ou estão no mercado praticando preços irrisórios, elas vão sumir? Essas empresas que chamamos de kamikazes, pois destroem a credibilidade do mercado e a si mesmas, existirão e se proliferarão até que os proprietários de elevadores se conscientizem que a escolha de uma empresa não pode ser fundamentada somente no preço ou nos benefícios oferecidos no curto prazo. Será que a empresa que aponta falhas de manutenção para conquistar você como cliente, não tem em instalações de seus clientes situações iguais ou piores que as falhas que elas apontam?